quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Era uma Vez... parte III

Já na escola, muitas histórias aconteceram. O filho mais velho, com seus 8 anos, disparou a chamar as coleguinhas de galinha, pois teria ouvido na televisão que " mulher é galinha", e isso virou lei; lá vai a mãe chamada na escola. Já o filho do meio, estava correndo no recreio, e no auge da corrida, um "amiguinho" colocou o pé na frente, ele saiu ralando no chão por metros, e foi para o pronto socorro em frente a escola, lá foi a mãe novamente. E, a caçula, na 1º série, certa vez, com medo da professora, segurou firme o xixi, mas a vontage era maior que ela. Soltou o xixi, sentada na cadeira da sala de aula, em meio a prova, a aluna ao lado viu e ela foi alvo de muita risada e queria que o mundo sumisse! Mas a vida segue...
Algumas rotinas continuavam. Todo domingo, macarronada nos avós paternos, moravam na zona leste. Filhos de espanhóis, o avô era honesto, trabalhador, e por muitas vezes, se lamentava por conta de seu filho ter cometido desatinos, que gerou a separação de seu casamento. Tinha grande estima pela ex-nora, e reconhecia a luta que ela teve por não querer criar os filhos distantes do pai, onde mesmo separada, o acolheu como um amigo em casa, negando seu pedido de permanecerem casados. O avó tinha um semblante fechado, quase o tempo todo, porém, os netos sabiam a hora que poderiam tirar boas risadas deste corinthiano roxo. Ele sentava na ponta do sofá, colocava o cinzeiro ao lado, junto com sua bengala, e ali ficava vendo todos os lances dos jogos de domingo: "que catzo!" reclamava aos chutes na trave. A avó, de olhos azuis pérola, sempre sorridente, ficava na cozinha quase em tempo integral.
Alguns anos se passaram, os filhos já tinham 13, 16 e 19 anos. A mãe decide mudar-se da cidade de São Paulo, a conselho do médico, por conta da bronquite de seus filhos. O pai, não aceitou que mudassem de lá, e dizia que se isso acontecesse, ele não iria junto (a vida é feita de escolhas). Foram meses e meses de trem e onibus que a mãe percorreu atrás de casas pelo interior de São Paulo. Até que encontrou uma cidade e uma casa agradável. O clima na casa ficou tenso, pois mesmo os pais separados, a convivência era natural, diária. Chegou o dia da mudança, foi difícil pra todos, pois toda mudança envolve força de vontade e entendimento. O pai, mudou-se para casa dos pais. A mãe, a caçula, o filho do meio, os dois cachorros e o jabuti, foram para o interior. O filho mais velho ficou na casa da tia, ainda em São Paulo por mais dois anos, por conta do emprego; depois seguiu rumo ao destino de sua família. A cada ano, todos os dias, conversavam com o pai por telefone, e o viam de meses em meses. A mãe agora aposentada, estava sempre em movimento na casa, inclusive cuidando das contas, que todos ajudavam. Iniciou um curso de pintura, fazendo lindos quadros. Eles sentiam quando faziam visita aos avós, que o pai andava tenso, com aparencia abatida, mas sempre com saúde com seus cinquenta e poucos anos, mas brilho do olhar que por muitos anos existiu, foi devagar sumindo e tomando conta pra um olhar desencantado sobre a vida. Os três começaram a trabalhar, a estudar, ingressaram em faculdades O mais velho, no ramo administrativo, o irmão do meio em enfermagem, e a caçula em logística. Passaram por muitas dificuldades, mas com fé foram tocando a vida.
Oito anos se passaram desde que mudaram-se, e o avó adoeceu. A caçula em visita ao hospital, pegou sua mão, sorriu, e disse para que descansasse em paz, tudo ficaria bem. Assim foi. No outro dia, na madrugada, ele faleceu (24/04/08). Um ano depois, nasce o primeiro neto da família, pra alegria de todos. O pai, agora avô, andava sem tempo para viajar até o interior, chegou a marcar várias vezes, mas trabalhava e mais uma semana se passava. Até que a família levou o pequeno neto a São Paulo... onde o momento foi marcante para todos. Passaram-se quatro meses, e todos estavam anciosos pelo aniversário de 1 aninho do netinho. O pai ligava e ainda dizia que não sabia como fazer, para ir até lá e levar a avó para a festa, pois teria que trabalhar.
Faltavam três semanas para a festa do pequeno neto! Numa segunda-feira, a mãe avisa que recebeu uma ligação de que o pai estava internado. A família estranhou e tentou manter contato. Ele tinha dores abdominais e foi pro hospital. Se despreocuparam, pois acreditavam numa má digestão, pois o pai tinha gastrite. Porém, passados 2 dias, o primo do pai ligou dizendo que o ele estava na UTI. A família se espantou, e ligaram para saber o endereço do hospital para seguirem a noite à São Paulo. Nesta última ligação, veio a notícia: Ele partiu.
Todos ficaram em chóque. Sentiram um pedaço e um sentimento da história de cada um, partindo de repente, no dia 24/02/2010, dois anos exatos após a partida do avó, pai dele.
Ficam várias incógnitas do SE: e SE eles estivessem todos juntos, no interior, estaria vivo hoje. E SE não estivesse levado o neto a SP, ele teria partido sem o conhecer. E SE não tivessem mudado, até hoje provavelmente a bronquite faria parte do cotidiano. Grande parte de nosso caminho é feito somente pelos nossos pés, e nossas atitudes são julgadas pela nossa consciência. Deus olha sempre por nós, e não nos dá uma cruz maior do que possamos carregar.
Esta história continuará, por mais longos anos, com muita alegria e união, onde todos terão finais felizes. História baseada em fatos reais, sobre a MINHA VIDA.
De todas as certezas que tenho do mundo, essas são corretas: o tempo não pára, se ele não pára, o acompanhe. Não viva por viver, aproveite tudo o que puder. O tempo é precioso, a vida que Deus nos deu é nossa dádiva, nosso corpo é nosso instrumento nesta vida. Tenha fé e acredite que tudo pode ser melhor, depende de você.

Beijos na ponta do nariz,
Ana Laura Mendes Sanchez

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